O que a TV não mostra
Um estudo, realizado no Centro Médico de Seattle nos Estados Unidos e publicado na revista Pediatrics, afirma que cada hora por dia passada em frente à TV aumenta, em média, em 10% as chances de que a criança desenvolva a síndrome do déficit de atenção. A discussão sobre o papel que a TV deve ter na educação das crianças e os resultados dela há muito tem sido aprofundada. Também há muito tempo está aberta a discussão sobre o papel da mídia em geral e mais especialmente da televisão na formação da personalidade violenta das crianças. Muitos sinais já apontavam para uma forte correlação entre o aumento da violência na TV e o aumento do comportamento violento e agressivo entre crianças e jovens. O que não se sabia é que esta correlação era tão estreita e os números tão alarmantes.
Isso é o que mostra as mais recentes pesquisas realizadas pela Sociedade Americana de Pediatria, Sociedade Americana de Psiquiatria, Sociedade Americana de Psicologia e Sociedade Americana de Infância e Adolescência. Algumas destas pesquisas, realizadas ao longo de 15 anos, trazem a público dados no mínimo preocupantes.
Ao assistir à TV uma criança presenciará 20 atos violentos por hora. Uma criança americana média assiste a TV 28hs por semana. Ao chegar aos 18 anos terá visto cerca de 16.000 assassinatos e 200.000 atos de violência. Há que se levar em conta que a televisão americana é muito mais conservadora em termos de exposição da violência e sensualidade do que a TV brasileira.
Uma grande pesquisa realizada com mais de 10.000 horas de programas obteve os seguintes e alarmantes números:
- 60% dos programas contém violência;
- 70% das pessoas que cometem violência neste programas não demonstram remorso;
- 73% das violências ficam impunes;
- 40% de toda a violência é praticada com humor;
- Mais de 50% das cenas de violência dos programas de televisão, se praticadas na vida real poderiam ser letais ou incapacitantes;
- Talvez mais perturbador ainda seja o fato de que 40% da violência foi realizada pelo mocinho ou pelo “herói” que acaba sendo o modelo de todos nós.
- Menos de 5% dos programas violentos incorporam algum tipo de mensagem contra a violência ou que mostre as consequências dela.
Segundo as pesquisas, não importa se a violência é apresentada em um filme, comercial ou mesmo no mais simples desenho animado, o resultado é o mesmo. Até o “inocente Pernalonga pode ter um efeito negativo a longo prazo sobre a criança” por causa da violência apresentada, segundo pesquisadores da Universidade de Michigan .
Os pesquisadores entendem que “a criança que vê violência na televisão pode não entender que a violência real machuca e mata pessoas”. Mais ainda, “se o mocinho usa violência, a criança pode aprender que é certo usar a força para resolver os seus problemas”. Preocupação maior ainda ocorre com os videogames onde, segundo os médicos e psiquiatras a violência ocorre de maneira interativa o que facilita ainda mais à criança e ao adolescente a repetição deste tipo de comportamento.
O resultado da violência na mídia sobre as crianças
“Provavelmente a mais clara evidência que nós temos de que a televisão influencia a maneira de pensar e de comportar-se de uma criança, é o fato de que empresas de propaganda investem literalmente bilhões de dólares tentando influenciar as percepções, escolhas e comportamento das crianças através de comerciais”. A afirmação do Dr Brian L. Wilcox membro da Academia Americana de Psiquiatria e professor da Universidade de Nebraska, não deixa dúvida de que se os comerciais influenciam, também a violência apresentada o fazem.
Um estudo com crianças de 707 famílias em 17 anos entre outros achados mostrou que os que assistiam à televisão menos de 1h ao dia cometeram 5.7% de atos violentos que resultou em machucado sério. Dos que assistiram entre 1h e 3hs 18,4% cometeram violência e mais de 3hs 25,3%, numa clara evidência de que a agressividade é proporcional ao tempo de exposição à violência.
Um outro estudo da Universidade da Pensilvânia realizado com 100 alunos de pré-escola antes e depois de desenho animado com cenas violentas mostrou que quem assistiu estes desenhos estava mais predisposto a discutir, desobedecer as regras da sala de aula, bater nos colegas, deixar as tarefas sem concluir e com menos paciência do que os que assistiram desenho sem nenhuma violência.
A conclusão final dos estudos sobre a criança exposta à violência da mídia é a seguinte:
- A criança se torna menos sensível à dor e ao sofrimento dos outros.
- A criança se torna mais amedrontada com o mundo ao seu redor. Hoje se sabe que cerca de 20% das crianças fazem uso de algum tipo de medicamento antidepressivo. Estima-se que nos próximos 10 anos este número possa chegar a 50%.
- A criança se torna mais atraída por agredir outros.
- A criança se torna imune ao horror da violência.
- Gradualmente aceita a violência como meio de resolver seus problemas. Ela percebe nos desenhos que isso dá resultado e que não há punição para a violência.
- Imita a violência que observa na TV sem entender que aquela violência pode machucar ou mesmo matar se for praticada na vida real.
- A criança identifica-se com certas características das vítimas ou dos agressores. Isso pode torná-la igual à vítima ou ao agressor. Sua personalidade, seu modo de agir, irá imitar um dos dois.
- Os efeitos sobre a criança podem ser vistos mesmo após 15 anos da exposição à violência.
- Criança que assiste muita violência na TV por volta dos 8 anos de idade está mais sujeita a ser presa ou processada por atos criminais quando adulto segundo um estudo de 17 anos (Dr Leonard Eron - Universidade de Illinois - EUA)
Ou seja, temos que entender que a violência da mídia seja na TV, computador, videogames, etc irão produzir algum efeito nas nossas crianças. De alguma forma esta violência terá mais cedo ou mais tarde sérias consequências sobre sua personalidade. Há ainda um fato relevante a ser considerado, que é a época em que os estudos foram realizados. Isto porque a violência na TV de 10 ou 15 anos atrás não pode ser comparada com a de hoje. Isto leva a uma pergunta: se isso foi observado naquela geração o que podemos esperar na de hoje?
O que fazer para reverter os números?
A Sociedade Americana de Pediatria (SAP) orienta 10 pontos para os pais a fim de que os efeitos da exposição excessiva à TV possam ser evitados.
1 – Dê limites: A SAP orienta que toda criança com menos de 1 ano de idade não deve assistir à TV e que todas com mais de 2 anos devem assistir apenas 1 ou 2 horas ao dia de programação educativa e não violenta. Durante a realização das tarefas da escola a TV deve estar desligada.
2 – Planeje o que seu filho pode ver: escolha os desenhos e filmes que seu filho pode assistir. Busque os educativos e instrutivos.
3 – Assista TV com seu filho: você poderá filtrar o que a criança vê e explicar para ela as diferenças entre show, comercial, desenho e vida real. Se você não pode assistir junto, grave os programas para ver depois e discutir com seu filho a mensagem apresentada.
4 – Busque a mensagem correta: escolha programas com mensagem correta. Busque ensinar ao seu filho o que é certo e desligue a TV se a mensagem não é educativa ou sem violência. Como cristãos podemos adotar e versículo de Filipenses 4:8 “Finalmente irmãos, tudo que é verdadeiro, tudo o que é respeitável, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se alguma virtude há e se algum louvor existe, seja isso o que ocupe o vosso pensamento
.”. Veja se os programas que seu filho assiste preenchem estes requisitos”.
5 – Ajude seus filhos a resistirem aos comerciais: ensine a eles que o objetivo dos comerciais é levar as pessoas a comprar coisas que eles não necessitam. Sempre que houver pedido de compra por parte de seu filho, faça-o refletir se de fato necessita do que está pedindo. Uma pesquisa realizada na Inglaterra mostrou que 94% das crianças entrevistadas estão viciadas em compras aos 10 anos de idade.
6 – Busque vídeos de qualidade: há no mercado inúmeros filmes, desenhos e vídeos em geral que mostram conteúdo sem violência e educativo. Mesmo um desenho animado pode ser violento. A revista Time classificou “O Rei Leão” como um dos mais violentos desenhos animados já produzidos. Há no mercado muitas fitas evangélicas com conteúdo bíblico e com preços acessíveis.
7 – Dê à criança outras opções: assistir à televisão torna-se um vício. Dê a seu filho a chance de desenvolver outros hábitos saudáveis e estimule-o. Tais como: jogar (jogos simples); leitura; atividades com família, amigos e vizinhos; aprender um hobby; aprender um esporte, aprender a tocar um instrumento ou aprender algum tipo de arte (como pintura).
8 – Dê o exemplo: A SAP salienta que nós pais somos o mais importante modelo para nossos filhos. Copiar nossas atitudes é quase uma regra. Por isso a SAP recomenda que nós comecemos desligando a televisão ou que limitemos o tempo dela ligada. Ainda mais, que escolhamos programas para assistir com mensagem adequada para que se a criança passar no momento em que estejamos vendo ela perceba que temos sabedoria na escolha. Nosso testemunho é fundamental.
9 – Expresse seu ponto de vista: dê sua opinião sobre o que está passando. Escreva para a TV, para o jornal, para o rádio. Mande e-mail ou carta. Manifeste-se. Não fique passivo. Foi a partir da manifestação dos pais americanos que surgiu o sistema de classificação de filmes e TV que foi desenvolvida pela SAP e é usado pela TV americana. Nós cristãos devemos ser mais ativos e praticar o que está em Romanos 12:2: “E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus”. Não se conforme. Manifeste-se
10 – Busque mais informações: a SAP disponibiliza sites e telefones com informações sobre os filmes e desenhos. No Brasil ainda não há nenhum correspondente a isto. Mas é possível você buscar entre seus amigos, pastores, educadores, líderes cristãos em geral as informações sobre filmes e desenhos. Não se deixe atrair pela propaganda. Informe-se antes.
Busque sabedoria de Deus para o que seu filho merece ou não assistir. Busque conselhos: Pv 11:14 “Não havendo sábia direção, cai o povo, mas na multidão de conselheiros há segurança”.
Se ao ler estes artigos você identificou-se com o que foi apresentado e reconhece que errou com seu filho, lembre-se o que diz em I João 1:9 “se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça”. Peça perdão ao seu filho e recomece de novo. Deus sempre está pronto para ajudar-nos.
Referência Bibliográfica
1 - Television and the Family, American Academy of Pediatrics
2 - Television – What Children See and Learn, American Academy of Pediatrics
3 - Unsafe and Violent Behavior in Commercials Aired during Televised Major Sporting Events, Pediatrics jun/2004
4 - Childhood Exposure to Media Violence Predicts Young Adult Aggressive Behavior, according to a new 15-Year Study, American Psychological Association mar/2003
5 - Violence in the Media – Psychologists Help Protect Children from Harmful Effects, American Psychological Association
6 - Violent Video Games – Psychologists Help Protect Children from Harmful Effects, American Psychological Association
7 - Violence on Television. American Psychological Association
8 - The Influence of Music and Music Videos, American Academy of Child and Adolescent Psychiatry
9 - Children and TV Violence, American Academy of Child and Adolescent Psychiatry
10 – Understanding Violent Behavior in Children and Adolescents, AmericanAcademy of Child and Adolescent Psychiatry
11 – Mais de 50% dos filmes de censura livre nos EUA têm cigarros, álcool ou drogas, diz estudo – BBC Brasil – julho/2004.
12 – Criança não deve ver televisão sozinha – Folha de São Paulo – dezembro/2004
13 – Criança até 2 anos não deve assistir TV, diz estudo – BBC Brasil – abril/2004
14 – Understanding the impact of media on children and teens, American Academy of Pediatrics
15 – Childhood exposure to televised violence may predict aggressive behavior in adults, American Psychological Association
16 – Three-year study documents nature of television violence, American Psychological Association
17 – Unraveling new media’s effects on children, American Psychological Association